DEIXA ROLAR


Perco-me nos meus filmes, nas minhas ansiedades, nos meus "eu queria que fosse assim", nos "quando é que vai ser" ou nos "mas eu quero ter a certeza" e deixo tudo o resto passar ao lado. Quero determinar, controlar, nem sequer cheirar ao de leve a Dor e deixo tudo o que pode vir de bom passar ao lado.

Quero congelar um momento, uma frase, uma emoção. E não vivo, no aqui e agora, 500 mil outras. Enquanto isso, a caravana passa. A Roda continua a girar. O Mar continua imutável, a recuar e a avançar sobre as dunas e o Sol magnificiente continua a prateá-lo em todos os finais de tarde de Verão. A Vida continua a acontecer, a borbulhar, a vibrar, a brotar sensações novas, cheiros diferentes, texturas maravilhosas. E não espera por mim.

Quero entrar nesse comboio da Vida. Quero pulsar com ela, vibrar com ela, estar em comunhão com ela. Para isso poder acontecer, basta deixar fluir. Deixar acontecer. Integrar o que vem. Saborear o que acontece. Usufruir do momento. Sem pressas, sem finais pré-definidos, sem sofreguidão.

Execicio de paciência e de recuo, este, perante a tentação de querer controlar tudo. De querer evitar a Dor. Já aprendi por vasta experiência própria, que a Dor nos ajuda a crescer imenso. Graças a dela floresci, renasci, redescobri. No entanto, ainda caio na armadilha de lhe resistir. Como se ela não fizesse parte da Vida. Parte de mim.

A Vida continua a rolar. E eu vou rolar com ela. Sob pena de me enterrar na areia e nunca mais de lá sair...

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