SER


Alinhada no meio da paisagem. Dominante. Direita. Altiva. Solitária.

Alinhada. Pelo que é, pelo que representa, pelo que transmite a quem a admira.

Dominante. Sobressai no meio de outros por ser diferente, estóica, resiliente.

Direita. Apesar do terreno desalinhado. Apesar dos ventos e tempestades que tentam deitá-la abaixo.

Altiva. Confiante de quem é e segura de que nada nem ninguém justifica o perder-se de si.

Solitária. Ser uma em mil. Não pertencer ao normalizado, ao catalogável. Não se reger pelas regras habituais. Ser única. Ser diferente de tudo e de todos.

Durante muito tempo, a procura foi no sentido de diluir entre a multidão, pertencer a um grupo, não levantar ondas. Ser quase invisível.

Até um dia. Até um dia em que diluir significava a anulação. A não-existência. O não assumir o que se é. E o que ainda se pode ser.

Agora... agora é Explosão. Luz. Sirene. Farol. Centro. Visivel. E está tudo bem. 

A Essência não pode estar escondida. Tem de Ser em pleno. Estar em pleno. Reluzir. Transplandecer. Em pleno.

A quem ela ofusca... o caminho está ainda para ser feito por elas... não depende de mim. Não é da minha responsabilidade. Nao me cabe resolver.

A mim só me cabe respeitar-me. Ser fiel a mim. À minha Essência. O resto... o resto aguarda-se. O resto confia-se. No Universo, que terá o seu Plano para mim a andar. E na Vida, confiar que ela trará exatamente o que preciso, quando estiver para isso preparada.

Até lá, Ser. Sempre. Sem medo. E Ir. Em Frente. Hoje. Aqui. E Agora.

PLENITUDE SOLITÁRIA


É muito dificil ser Plena, Luz, Desperta, Sensivel, num mundo rodeado de pessoas que ainda nem sequer sabem quem são, muito menos que também podem ser Plenas, Luz, Despertas, Sensiveis. E algumas delas, nesta Vida, não o chegarão a Ser.

Outras estão já a fazer esse caminho de perceção, de descoberta, de aceitação. Sou grata por algumas delas fazerem já parte da minha vida. No entanto, outras que eu gostava que fizessem, provavelmente não as integrarei. Porque para o fazer, teria de abdicar de mim. Do que eu Quero. E do que eu Sou.

Eu Sou Mais. Eu falo alto numa festa. E rio-me ainda mais alto, sem pudor nem retração. Sem vergonha. Eu danço no meio da sala mesmo que ninguém me acompanhe - a música e o corpo pedem e não preciso de escudo, de protecção, de ser invisivel. Eu não sou Invisivel.

Eu não sou para qualquer pessoa. A minha segurança intimida (já me transmitiram isso mais do que uma vez). A minha presença mexe com a energia circundante. Não passo indiferente. E é, para os outros, pelas suas próprias inseguranças, crenças limitativas, demónios interiores, dificil gerir-me... não peço que o façam...

Arrisco-me a estar numa caminhada solitária. Sem alguém que me acompanhe e que não se sinta intimidada.

Mas eu integro em mim esta Verdade: Agarra-te bem à certeza daquilo que tu queres para ti. Nunca, mas nunca, abdiques nem um milímetro do que És. 

Aguarda. Sê paciente. A Vida se encarregar-se-á de colocar no teu caminho as pessoas certas, no momento certo. Confia. Tem Fé. E vai. Segue em Frente. 

Sê. Luz. Plena. Desperta. Tu...

APESAR DO MEDO, IR


Isto da entrega pode ser tramado. Se for incondicional. Como acho que, em certos assuntos, deve ser.

A entrega emana disponibilidade total, peito aberto, permeabilidade total do Sentir, absorção sem filtros do que vem. Seja bom ou mau. E é aqui que o tramado espreita...

Peito aberto. Braços estendidos. Coração a fervilhar. Uma linha muito ténue separa a vivência de algo extraordinário, bonito, leve... de algo sofrido, traído, sufocante. 

Porque peito aberto significa também exposição. Vulnerabilidade. Levar com o que der e vier. Sem saber se é violento ou doce. E se vai aguentar o embate.

Difícil perceber o que fazer, como agir, em determinadas alturas. Principalmente quando o Medo resolve aparecer de fininho e nós, distraídas, lhe damos um pouco de atenção.

O nosso instinto de sobrevivência instiga-nos sempre a fugir da Dor. Mas recolhermo-nos num canto e não Ir, não Arriscar, não Viver... é igualmente doloroso, só não o percebemos no momento.

Na dúvida... ainda assim... é para Ir. Seguir em Frente. Vamos lá.

VAI. EM FRENTE. AGORA.

A tua Vida está a acontecer agora. Não amanhã ou depois de amanhã, ou no próximo mês. Está a acontecer agora.

Os teus projectos de vida são para concretizar agora. Não quando mudares de emprego, ou o teu salário for aumentado. Ou quando os miudos sairem de casa e te reformares. É agora.

É que mesmo que tu te coloques em pausa... a tua Vida continua a rolar. Só que tu não a vives. Apenas assistes. És mero espectador. 

E quando te deres conta do tempo passado... e do que não concretizaste, do que não sentiste, do que não partilhaste, do que não amaste...a raiva e frustação vão-te consumir até às vísceras.

Por isso, Pessoa: Vai. Em Frente. Agora. 

Agora!

SEGUIR EM FRENTE


Não penses que sabes tudo. Na verdade, sabes nada. Observas de fora e já achas que podes formar juizos de valor sobre as escolhas do outro. E fazes. Sem estar interessado nos "porquê", "quando" e  "como". Sem ouvir o outro. A história dele a ti nada interessa. Não faz sentido. 

Colocas-te atrás das desculpas fracas de valor como "não foi assim que fui educado", e esvazias todo o sentimento e empatia. Pela situação mas, essencialmente, pelo outro. Não consegues ver para além de...

O outro passa a ser uma abstração, esvaziado das memórias compartilhadas e emoções vividas em conjunto. Sentes que tens de fazer escolhas. Que a adaptação é fraqueza. Que o reajustar todo o teu modo de pensar significa o desmoronamento de quem és...

Sabes, o primeiro impulso de acção que tenho é de me zangar contigo. Insultar-te. Não percebes que eu estava enclausurada, presa, sufocada? E depois... baixar os braços. E sentir-me abandonada por ti. 

Mas porque já cá ando à algum tempo, porque decidi a determinada altura da minha vida ser mais, sentir mais, aprender sobre mim e sobre os outros, mais... eu aceito-te. Aceito e perdoo. Aceito a tua rigidez de pensamento, a tua dificuldade em perceber que não tens de fazer escolhas, a tua cegueira sobre a imensidão do Amor e no quanto nele cabe tudo e todos. 

E perdoo. Perdoo o teu abandono, a tua distância. Não consegues fazer diferente. Não consegues, neste momento, fazer melhor. E está tudo bem. 

Para mim, é mais uma aprendizagem. De que não se pode ter tudo. De que em cada escolha há uma perda. Ou várias. 

Mas para se ganhar, por vezes, é preciso perder. É preciso largar. É preciso desapegar. Perdoar. E seguir em frente.

Que assim seja. Hoje e Sempre...

VAMOS LÁ SER FELIZES?


Segura-te, minha Pessoa. Segura-te não porque vais cair mas porque, com a vontade que tens, levas tudo à frente! 

Segura-te. Tudo a seu tempo. Tudo a encaixar, no lugar devido. Sem pressa.

Segura-te. Nada volta igual. Nada renasce com a mesma fibra. Nada reluz com a mesma intensidade, depois da escuridão. Depois da escuridão, a Luz é imensa. Ofusca quem se quer continuar a esconder. Incomoda.

Tu é que jamais te deves incomodar com quem não sabe ou não quer aceitar a tua Luz. Ela É, ainda assim. Apesar de. 

Segura-te. Porque quando o comboio arrancar e atingir a velocidade de cruzeiro, tu nem vais acreditar que já estiveste parada. Paralisada no cruzamento. Desnorteada... acreditando que para ti já não havia esperança, que já não era para ti, que já não ias a tempo.

Segura-te. É o teu Tempo. Aqui. E Agora. 

Embarca. Estende a mão à tua menina interior, agarra-a e sussurra-lhe: "vamos lá ser felizes...?"

CALMA NA ALMA


6 da manhã. A casa dorme ainda. Menos eu. Estou inquieta. Alerta. Desperta.

O corpo pede descanso, a alma não. O comboio iniciou a sua viagem e comprei o bilhete. Entrei na carruagem. Anda devagar. Tem tempo de chegar ao destino... 

A alma pede calma, o corpo não. As terminações nervosas estão activas, as conexões frenéticas, os sentidos apurados...

A viagem está ainda a começar, mas a paisagem já é deslumbrante, densa, colorida, exuberante. Mil pormenores para descobrir, apreciar, saborear.

Sei qual o destino. Desconheço como vai lá chegar. Que trilhos vai calcorrear. Mas estou a adorar descobrir.

Confio. Primeiramente em mim. Depois, no Universo. E na Vida. Que sabe sempre o que faz. E que por mais voltas que se dê, zela sempre para que eu receba exatamente o que preciso. Na altura certa. 

Assim é. Que assim seja, sempre... 

CONTEMPLAR A FORÇA



Quase 3 anos depois, finalmente coloco estas senhoras no lugar idealizado há já algum tempo, para serem vistas e admiradas. Apaixonei-me logo por estes quadros. Comprei-os na Feira de Artesanato de Luanda, com a intenção de trazer mais um pouco daquela terra que tanto me deu, tanto me ensinou, tanto me marcou.

Representam mulheres guerreiras, sofridas, nutridas de uma força e resiliência herculeanas. Mulheres que do nada fazem tudo. Mulheres que trabalham o dia inteiro a vender na rua, sob um Sol escaldante, para ganhar o suficiente apenas para a refeição do dia. Aqui não há o amealhar e sobrar dinheiro. No dia seguinte, recomeçam tudo de novo. Com um filho pela mão e um bebé nas costas.

Mulheres de garra, de fibra. Para elas não existe a palavra desistir. Desistir significa o Fim. Para elas e para os seus filhos. Admiro-as até ao infinito. Relembram-me sempre que devo relativizar o meu queixume sobre a dificuldade da Vida. Dificuldade o caraças!

Estas mulheres são extraordinárias. E agora, posso absorver delas a sua força. Basta contemplá-las...

COMO VAI SER...?


Há dias em que não consegues ver a luz ao fundo do túnel. Tudo é cinzento, cru, sofrido. Há dias em que não te apetece dirigir a palavra a ninguém e rezas para que não te chateiem, que o resto do mundo esqueça que existes. Nestes dias, a névoa negra da solidão abraça-te. Sorves com sofreguidão a lamentação pelo que não tens, não fazes, não és... os outros têm tudo, tu tens nada. O mundo é injusto. Rogas pragas a quem aparentemente é feliz. Porque tu sentes que nunca - mas nunca - vais ser feliz. Não está nos teus genes. Não és merecedor...

Pena que nesses dias, minha Pessoa, só olhes para o chão. Que só queiras alimentar raiva. Que só vejas muralhas a travar-te o caminho. Que só valides o que não és...

Porque... se levantares a cabeça... se a levantares... vais poder ver que a muralha tem limites. É circunscrita, delimitada. O mundo fora dela é livre. Tu és livre. 
(... sai da muralha...)

Se levantares a cabeça, encheres o peito de ar e esvaziares a cabeça das sacanas das crenças que tu própria assumiste para ti, vais poder observar os pormenores deliciosos da Vida e perceber o quanto tens... tens tanto! Tens-te a ti. Tens as pessoas que te querem bem. Tens a Vida a assegurar que as voltas a dar te trazem o que precisas. Tens o Universo a zelar para que resolvas o que te entrava e empata.

Só tens de estar atenta, minha Pessoa. Atenta ao azul celestial do Céu, aos moinhos que pincelam de branco a paisagem, à forma como a Natureza vence sempre o que a contraria - nenhuma muralha é mais forte que a resiliência da árvore que perto dela teima em crescer e florescer.
(...tu és Natureza...)

Larga a muralha. Despede-te dela. Aventura-te. Aceita o medo. Mas vai em frente à mesma.

O pior que pode acontecer? Não ser desta.

O melhor que pode acontecer...? Ser desta. E ser à grande! E ser "para sempre"...

Como vai ser, minha Pessoa? 

Está nas tuas mãos. Compreende. Aceita. E integra...

NO AMOR. COM AMOR. PELO AMOR


Agarra-te à Vida, minha Mulher-menina. Agarra-te à Vida como se não houvesse amanhã.
(... e não há, só existe o aqui e agora...)

Agarra-te ao Amor, minha sacana fugidia, que dele te tens escondido desde que lhe sentiste o sabor pela primeira vez.
(... e a dor que ele gerou...)

Agarra-te ao que aí vem, minha parva que acha que não merece. Agarra-te ao que aí vem e aceita, integra e abraça.
(... abre os braços e deixa entrar...)

Liga-te à Terra. Às vibrações. Ao Amor que aí está, pronto para te servir. Pronto para te elevar. Pronto para te mimar, seduzir e deixar sem chão. 

Liga-te, minha Pessoa. Liga-te a ti. Ao teu Eu. Ao Universo. E a mim. Faz o círculo. Dá-me a mão. 

Vamos. Sem medo. Hoje, Aqui e Agora. No Amor. Com Amor. Pelo Amor. 
(... e nada mais é preciso...)

ESCOLHAS...

Forte de São Filipe admirando Tróia

Para cada porta fechada, há uma janela que se abre.

Para cada coração ferido, há uma cola mágica que o cura novamente.

Para cada experiência mal sucedida, há uma valiosa aprendizagem.

Para cada "não", há uma oportunidade (ou várias) de diferentes e maravilhosos "sim".

Para cada mão que não acolhe a do outro, há abraços à espera de serem entregues.

Para cada pessoa que sai da nossa vida, há outra que entra e nos surpreende.

Para cada pessoa que nos retrai, há pessoas-Luz que nos protegem, basta estarmos preparados para as acolher.

Para cada muralha que se coloca na nossa frente, há um caminho alternativo a descobrir.

Para cada Amor que desaparece, há outro bem ali ao lado, à espera de ser descoberto.

Para cada dia mau, há multiplos dias bons.

...

Não podemos controlar o que nos acontece. Mas podemos controlar a forma como reagimos ao que nos acontece. Todos os dias fazemos essa escolha. 

Podes escolher a Luz, o Amor, a Compreensão. Ou escolher o Negativismo, a Vitimização, a Reacção mecânica.

Como vai ser, Pessoa? O que escolhes tu...? 

AQUI E AGORA


Manhã cedo. Eu mais uns gatos pingados. O resto do mundo não acredita que por aqui está um dia magnifico. Sol aberto e bem quente. Vento, sim. Mas quente. Água que não incentiva ao grito quando nos atinge a cintura.

Cabelos soltos, a deixar que o vento brinque com eles. Pés a serem massajados pela areia. Melanina que vem e se mostra, sem vergonha, ao Sol.

Silêncio no ar, quebrado pelo bater das ondas no areal. Ao longe, barcos de pesca. Ao perto, espuma branca do mar, conchas variadas, pedrinhas. O olhar perde-se pelo areal, pela linha branca que se forma e separa o azul do castanho.

Cabeça esvaziada. Peito aberto. Coração aconchegado. Zero preocupações. Não hoje. Não agora. Não aqui.

Três horas depois nuvens negras tapam o Sol. Vento gelado clama por um casaco. Nem com o resguardo do páravento se consegue não bater os dentes. 

Hora de ir embora. Nada de tristeza, o que usufrui e bebi naquelas três horas foi tão bom... estive em modo "Aqui e Agora" total, durante todo o temp que lá estive. 

Privilégio. Muito grata. E por vezes, nada mais é preciso para se saborear Felicidade...

MEU AMOR SALGADO


Fundo-me em ti. A minha pele delicia-se com o teu toque, com a tua temperatura, com o teu mexer. Saboreio-te. Perco-me em ti. Desejo ir para longe, contigo a envolver-me. Vejo o sal que fica na minha pele seca e apetece-me novamente fundir-me em ti, deixar-me envolver no teu ondular, na tua força, na tua imensidão.

Desligo as preocupações quando te admiro, O som das tuas ondas a bater na areia tranquilizam-me. É insaciável a minha vontade de ter a minha pele molhada por ti. Gosto de sentir o perigo quando estás mais bravo. Sei que não te domarei nunca. Mas agrada-me pensar que ainda assim, és sempre um pouco meu quando em ti mergulho.

És inesgotável. Assim também é a minha vontade de estar junto de ti, de te cheirar, de te sentir. Relação perfeita... sem cobranças, alianças e compromissos formatados que só matam o desejo. 

Somos livres os dois. De nos termos. Quando quisermos. E sempre que quisermos...

ESCONDIDA ENTRE MURALHAS


Tolice. Tolice pensar que te podes esconder, te afundar entre paredes, te alheares do que te rodeia.

Tolice. Tolice pensar que não te vejo, que não te ouço, que não te sinto. Sinto-te. Muito. Conheço-te. És transparente. Para mim.

Tolice. Tolice assumir que o que lançamos ao ar não volta para nós. Vai voltar. Mais leve ou mais pesado, depende do caminho que fizeres nos entretantos da Vida.

Tolice. Tolice te convenceres que podes passear pela Vida sem Sentir em pleno, sem Amar em pleno, sem Ser em pleno. Sem Ser.

Todos somos um pouco tolos de quando em vez. Desviamo-nos da rota, fugimos da Escolha que grita dentro de nós, mandamos a Coragem dar uma volta e enfiamos a cabeça na areia. Até um dia...

Se esse dia nunca chegar, lamento muito. Por ti. A tua Essência não pode respirar, não se pode espalhar, não se pode cumprir, nesta Vida.

Mas se te permitires, esse dia vai chegar. E caramba!, quando esse dia chegar... vais ser Luz, Amor, Sentidos... Vais ser Livre. Livre!

Depende de ti. Sempre. Sempre...

ÁGUA E LUA

Miradouro da Lua, Luanda, Angola

Uma linha branca separa o azul do Mar da paisagem Lunar. A areia faz o corte, ao mesmo tempo que une os dois universos díspares.

Sinto-me pequenina perante esta obra da Natureza. As colinas erguem-se imponentes durante quilómetros, assumindo sem vergonha as suas escarpas, a sua escultura cuidadosamente polida pelo vento durante séculos. São fruto da erosão e desgaste mas, por isso mesmo, são magnificas.

Uma vez mais, esta recordação leva-me para aquele momento na minha vida em que a Coragem agarrou em mim e ordenou-me: vai, trilha o teu caminho. Vai, tu consegues. Vai, tu mereces!

Uma vez mais, esta recordação transporta-me para a Certeza de que a Dor vem sempre com um propósito. E que há momentos na nossa Vida em que temos de decidir de uma vez por todas e para bem da nossa sanidade mental: saimos da nossa zona de conforto e escolhemos o nosso próprio caminho... ou continuamos a cozer lentamente na panela, até deixarmos de respirar...?

Uma implica romper com amarras, por vezes com tudo e todos que conhecemos. Mas a possibilidade de sermos felizes tem pelo menos uma hipótese. A outra... implica apenas deixarmo-nos estar no assim-assim, no mais ou menos, no se calhar é melhor isto que nada... vivendo em profunda e miserável tristeza e vazio.

Arrisquei. Atirei-me de cabeça. Não me arrependi nunca. Ainda estou a aprender o como. Não sei o quando. Mas tenho a certeza do quê e como isso me preencherá, até ao infinito. 

E para já, isso basta.

O MEDO QUE SUSSURRA


Vemos algo ao longe que nos capta a atenção. Contemplamos-a e logo no primeiro relance, conseguimos perceber que estamos perante algo maravilhoso. Mas está ainda lá ao longe, ainda é pequeno ao nosso olhar. À medida que caminhamos na sua direcção, vamo-nos apercebendo da sua grandiosidade, da sua magnificência, da sua estoicidade e resiliência. É algo de uma pureza, de uma beleza... que todos os nossos sentidos se focam para a admirar. Queremos fazer parte dela, envolvermo-nos na sua estrutura, fazer parte da sua natureza.

Mas... o Medo está à espreita. Permanece nas nossas costas para nos sussurrar ao ouvido: olha que isto é grande demais para ti... olha que isto pode tombar e esmagar-te... olha que isto não é para ti... olha que não tens capacidade para aguentar permanecer aqui...

Neste momento, temos algumas opções. Uma delas é aceitar o que essa voz nos diz e racionalizar o sentimento, de forma a engavetá-lo e o transformar em algo insignificante (ter a ilusão de que ele se transformou...) e nunca mais olhar para trás. 

Outra opção é, talvez, a que exige mais coragem, a que implica entrega incondicional, a que tem em si a confiança de ir ao encontro de algo sem qualquer tipo de rede. Confiar. Sem certezas de nada. Confiar na Vida. Confiar em si próprio. Confiar que independentemente do que aconteça, tudo o que venha é sempre melhor que a inércia, o deixa andar, a ausência de memórias, de experiências, de aprendizagens.

Tudo isto implica maturidade. E a perceção profunda de que somos nós que fazemos as nossas escolhas. Somos nós que colocamos no nosso caminho determinadas situações, determinadas pessoas. Nada acontece por acaso. E tudo acontece por uma razão. Ou umas quantas...

Que se integre esta Certeza: somos totalmente responsáveis pela forma como passamos pela Vida. E integrada esta Certeza, o Medo cala-se. Já não é ouvido... 

E que assim seja. Hoje e sempre...

CONFIA...

Praça Central, Santo Tirso

Vai. Mesmo com o Medo a morder-te os calcanhares. 
Vai. Com a Coragem a proteger-te o peito.
Vai. Apesar de não teres Certezas de nada. 
Vai. Ainda assim.

Porque os "Ses" não constroem memórias. E os "Quase" não alimentam o Amor, a Paixão, a Vida.

Vai. Confia. Pode bem acontecer algo inesperado: seres Feliz...

E É PARA PARAR?


Quarentona. Ainda aí para as curvas. Cada vez mais segura de si. Cada vez mais confiante no seu je ne sais quoi. Cada vez mais liberta das amarras dos "não mereço", "não tenho", "não sou suficiente".

A caminhar a passos largos para a independência total dos juízos de valor atirados sem análise objectiva, das opiniões que no final não acrescentam nada de valor, do carregar na mochila culpa alheia.

A assumir em pleno a Mulher. A ser ainda e para sempre Mãe, mas a não permitir que seja unicamente essa a esfera que a define e a valida. A adorar descobrir esta nova forma de Viver, de Sentir, de Ser.

A não se arrepender de nenhum milimetro do caminho árduo e doloroso percorrido. A ser muito, muito grata por todas as Dores sofridas, todas as Pedras encontradas, todas as Portas fechadas. Só assim poderia chegar ao ponto actual...

Com a certeza dogmática de que a Vida está novamente a começar. Mas desta vez, embuída da sabedoria adquirida a ferros, da experiência marcada na pele e da sede de Viver na Essência, quem a parará...?

A LEVEZA DA CERTEZA



Velas, mantas, snacks de comer sem necessidade de talheres, vinho, espumante. Bolo de Aniversário original. E o meu núcleo quase todo reunido. Foi com tudo isto que celebrei a completitude da minha 44ª volta ao Sol. Na praia. À noite. Depois de um dia inteiro passado a me nutrir de conhecimento, a expandir a minha base emocional, a aprofundar a minha percepção sensorial, na formação que escolhi frequentar. Que só reuniu condições para acontecer precisamente no dia do meu aniversário. Nada é por acaso...

Ponderei, dias antes, celebrar esta data de forma mais tradicional, com um jantar marcado num restaurante qualquer. No entanto, o apelo de passar a noite na praia, com quem me é mais chegado, não largava o meu peito. Era desta forma que queria passar esta noite. Era só assim que para mim fazia sentido. Era só lá que eu iria me sentir inteira, viva, feliz. Apesar da estranheza. Apesar de nunca antes o ter feito. Apesar de quem eu queria que lá estivesse comigo poder equacionar a minha sanidade mental.

Nunca duvidei do quanto me iria fazer bem cheirar o mar naquela noite. Ter o pé na areia. Observar o céu estrelado. Ouvir o bater das ondas nas rochas. Sentir a Lua a banhar-me o corpo, a iluminar-me a alma, a pintar de prateado o mar.

Por não ter duvidado da minha intuição, por me ter agarrado à minha certeza, por ter tido sempre a leveza de saber que quem comigo estava iria também guardar memórias doces e tranquilas desta noite, fui feliz. Muito feliz.

Que a Vida me continue a demonstrar que vale a pena ir. Que vale a pena não abdicarmos de nós. Que a recompensa por seguirmos o nosso coração é garantida. Que o agarrarmo-nos à certeza do que nos faz bem e irmos atrás dela, nos eleva. E nada, nada mais importa...

ALMA-AMOR


Cristalina. Pura. Reluzente. Que transmite Paz. Tranquilidade. Serenidade. É assim a água do mar. Assim deve ser também a alma que se aceita, que integra o que a Vida lhe oferece, que fez à muito as pazes consigo mesma. Que se sente inteira. Que se ama. Incondicionalmente. 

Nas vésperas de completar a minha quadragésima quarta Volta ao Sol, é assim que a minha alma se deseja sentir: inteira. As escolhas que faço, o caminho que escolho trilhar, o foco que me norteia... para lá me direccionam. Me ajudam a lá chegar... ao Ser... ao Sentir... Inteira. Amada. Pelo Amor que vem de dentro. Em primeiro lugar. 

Para que depois seja possivel integrar o que é externo a mim...

RESPIRA...


Respira, Pessoa. Respira. Sente a brisa a tocar-te suavemente na face, nos ombros, no peito. Contempla o azul do Céu e o algodão branco das nuvens. Contempla...

Tateia a rudeza da areia molhada na tua pele, como ela se quer colar a ti, como ela quer ficar contigo para sempre. Tateia...

Respira, Pessoa. Respira fundo. Abre o teu peito. Abre bem o teu peito para o que aí vem. Sorri. Sorri para o que a Vida tem preparado para ti. Sorri...

Respira, Pessoa. Respira bem fundo. Relaxa... Desacelera... Pára... E observa, observa bem o Universo... como ele trata de encaixar tudo no sitio certo. Na hora devida. No quando tem de ser. Nunca antes...

Respira, Pessoa, respira. E abraça-te. Abraça-te bem. Abraça-te e agradece-te pelo caminho que fizeste e pelo que continuas a fazer. Agradece-te pelas dores sofridas, pelos desvios feitos, pela coragem arrancada sabe-se lá de onde mas que veio e te segurou. Agradece-te...

 Respira, Pessoa, respira. E Sê Tu.

O resto... há-de vir...

DEIXA ROLAR


Perco-me nos meus filmes, nas minhas ansiedades, nos meus "eu queria que fosse assim", nos "quando é que vai ser" ou nos "mas eu quero ter a certeza" e deixo tudo o resto passar ao lado. Quero determinar, controlar, nem sequer cheirar ao de leve a Dor e deixo tudo o que pode vir de bom passar ao lado.

Quero congelar um momento, uma frase, uma emoção. E não vivo, no aqui e agora, 500 mil outras. Enquanto isso, a caravana passa. A Roda continua a girar. O Mar continua imutável, a recuar e a avançar sobre as dunas e o Sol magnificiente continua a prateá-lo em todos os finais de tarde de Verão. A Vida continua a acontecer, a borbulhar, a vibrar, a brotar sensações novas, cheiros diferentes, texturas maravilhosas. E não espera por mim.

Quero entrar nesse comboio da Vida. Quero pulsar com ela, vibrar com ela, estar em comunhão com ela. Para isso poder acontecer, basta deixar fluir. Deixar acontecer. Integrar o que vem. Saborear o que acontece. Usufruir do momento. Sem pressas, sem finais pré-definidos, sem sofreguidão.

Execicio de paciência e de recuo, este, perante a tentação de querer controlar tudo. De querer evitar a Dor. Já aprendi por vasta experiência própria, que a Dor nos ajuda a crescer imenso. Graças a dela floresci, renasci, redescobri. No entanto, ainda caio na armadilha de lhe resistir. Como se ela não fizesse parte da Vida. Parte de mim.

A Vida continua a rolar. E eu vou rolar com ela. Sob pena de me enterrar na areia e nunca mais de lá sair...