NÃO. NÃO VAI FICAR TUDO BEM...


Não. Não vai ficar tudo bem. Totalmente bem. Impossível.

Impossível, depois de uma pandemia, que tudo volte a ser como dantes. Impossível. 

As vidas perdidas são obviamente irrecuperáveis. A economia mundial entrará em grave recessão, uma recessão de proporções bem mais graves e profundas que o crash de 2008.

Mas isto, já (quase...) todos antevêem.

O que ainda não se visualiza, a médio/longo prazo, porque ainda se está no meio do tornado a tentar salvar vidas e a não entrar em colapso de recursos humanos, meios materiais e financeiros, são os futuros danos severos na saúde mental, a escala mundial. No stress prós-traumático de que milhares de milhões de pessoas passarão a sofrer e que lhes limitará a sua sanidade, se calhar para o resto das suas vidas. 

Porque é impossível, para os profissionais de saúde, passarem emocionalmente incómules depois de assistirem, impotentes, à Morte a lhes roubar das mãos centenas de doentes. Sem nada poderem fazer para a contrariar...

Porque é impossível a milhares de pessoas ultrapassar, saudavelmente, a dor de não terem podido fazer o luto devido. Não terem conseguido se despedir do seu ente querido, não terem estado ao seu lado nos seus ultimos momentos em vida, não o terem abraçado, beijado, dito "Gosto de ti", "Nunca te esquecerei", "Amo-te eternamente" uma última vez...

Porque é impossivel integrar mentalmente, de imediato, que esta pandemia está a arrasar a raça humana. A vários níveis. E a levantar o que de pior há em nós. Felizmente, também o melhor. Mas a nuvem negra da Morte é de tal tamanho, de tal densidade... que actos arco-irís ficam tapados, quase sem Luz...

O pior de tudo isto? O stress pós-traumático imputado a esta pandemia só será devidamente validado, pelas entidades e profissionais competentes, daqui a demasiado tempo. Até lá, muitos de nós viverão num sofrimento emocional e mental atroz. As taxas de suícidio em alguns países subirá. As vendas de anti-depressivos e ansiolíticos sofrerá uma subida estonteante. E nós continuaremos a desvalorizar a psicoterapia e o acompanhamento psicológico (abordagens diferentes...) como meios de primeira linha de ajuda, para quem sofre os sintomas.

E este cenário apocaliptico não está muito longe... assim que a poeira assentar e lentamente se for saindo do modo "sobrevivência", abre-se o espaço para...

IMPAGÁVEL



A paz interior. A certeza de que devemos nada. Ou temos a prestar a alguém. Contas. Impagável.

Deitar a cabeça na almofada e dormir. Serena. Certa de que se fez o melhor possível. Com o que se tem. Se sabe. E se é capaz. Impagável.

Sorrir sem vergonha. Olhar nos olhos sem pudor. Ter a cabeça levantada. Preferir esperar por do que deixar à espera de. Impagável.

Ser Luz. Agradecer. O que tenho. Almejar sempre, apenas e só, o que a mim está reservado. E desejar, para o outro, que receba tudo o que merece. Impagável.

E sentir que só isto, para mim, chega. Para ser Feliz. Só.
Impagável...

O SINDROME DA INTOCABILIDADE


É assustadoramente normal. Banal até. O ser humano desligar certos mecanismos de autosobrevivência e assumir que "só acontece aos outros".

Só acontece aos outros morrer num acidente automóvel porque iam a conduzir com excesso de álcool. Logo, eu posso beber o que me apetecer quando sair à noite. Porque eu controlo a cena toda. Eu até conduzo quase de olhos fechados, quanto mais com uns míseros litros de álcool no sangue...

Só acontece aos outros desenvolver cancro nos pulmões, fígado, estômago... Porque eu até sou saudável, nunca fiquei doente e raramente fico constipada. Logo, posso enfiar para o meu corpo substâncias cientificamente provadas como nocivas a longo prazo, porque a mim nada me afecta. E também porque vou viver para sempre...

Só acontece aos outros ficarem infectados com o COVID-19. Eu faço a minha parte. Até uso as luvas (que não descarto nos locais devidos) e a máscara (que só ponho para tapar a boca, no nariz não porque é desconfortável). Por isso, não me peçam agora para, num belo dia de Sol, eu ficar em casa. Eu tenho de ir dar um passeio ao longo da Marginal. Se estão lá outras pessoas, muitas pessoas, isso é lá com elas. Eu tenho o direito, repito - o direito!, de sair de casa para tomar um pouco de ar. E ao ar, já se sabe, não se apanha o tal do virus...

...

Fingimos que está tudo bem. Que nos vai passar ao lado. Que os números que vemos serem anunciados nos orgãos de comunicação social são só isso mesmo: números. Não representam pessoas. Já falecidas. E infectadas. No momento em que escrevo este post, estão, a nivel mundial, cerca de seiscentos e cinquenta mil infectados. E faleceram já mais de trinta mil pessoas. 30.000. E o pico da pandemia ainda não foi atingido...

Por isso, a todas estas pessoas que sofrem deste estranho, perigoso, altamente negligente e arrisco até - criminoso - síndrome da intocabilidade, só vos desejo uma singela coisa: boa sorte. Vão precisar...

ISOLAMENTO DOS AFECTOS


Porque os amo, não lhes posso tocar. Abraçar. Beijar. Cheirar sequer. Os meus filhos. Não posso. Porque os amo.

Não previa esta dor. Que me aperta o peito e me suga o ar. Não os posso ver... só através de um pedaço frio de matéria num telemóvel, que não é capaz de transmitir o calor do meu corpo, de colocar a minha a mão nas suas faces, de os enrolar nos meus braços, num abraço apertado.

E o que me dilacera? Desconheço o quando. Não sei quando será seguro que corram para os meus braços. Não sei quando poderei sorrir com eles enquanto estamos todos sentados à mesa a jantar e a falar baboseiras. Não sei quando... Só sei que esse quando está longe. E esse longe... sufoca-me...

Eu explico. Lhes. Me. Descrevo todas as razões factuais pelas quais não podem estar com a mãe. Quero acreditar que compreendem. Que sabem que a quarentena imposta, a sua segurança e a sua saúde, falam mais alto que a vontade visceral de estarmos juntos. Quero acreditar que sabem que, para a mãe deles, esta ausência não é escolhida. Não é egoísmo. Não é não lhes sentir a falta. Quero acreditar...

No meio deste Apocalipse, agarro-me ao que me é firme: o Amor. Por eles. Por ele. Por mim. E confio. De que apesar do Caos, sairemos incólumes. E capazes de vislumbrar e viver a Vida, de uma perspectiva completamente diferente. 

Talvez... a perspectiva que sempre deveria ter sido...

INVISIVELMENTE CRAVADAS


Incontornável. Esta pandemia. Nas discussões, preocupações, orientações. Confesso a minha inocência inicial. Não esperava o actual estado social e comportamental. Não vislumbrava a necessidade de recolher os meus filhos para quatro paredes durante tempo indefinido. Não acreditava que se pudesse atingir os actuais números de infetados e possíveis. Muito menos que mortes ocorressem.

Porque, mais uma vez inocentemente, assumi que o bloqueio preventivo ia ser eficaz. Que a responsabilidade individual se elevaria. Que as acções no terreno seriam céleres e contundentes.

Agora, lido com o medo. O pânico. A ansiedade que não permite raciocinar, priorizar, antecipar. Pesadas, estas consequências. Brutal, o desgaste emocional na sociedade. Só medido e devidamente validado daqui a demasiado tempo. Por agora, vive-se em suspenso. E paradoxalmente, a correr. Contra o tempo.

Os medos de morrer, de ficar preso em casa sem saber até quando, de não poder adquirir bens alimentares e farmacêuticos, dominam tudo. Toldam todos. Abalam as certezas até agora tidas.

Sentir as grades cravadas no corpo. Invisiveis. Mas cravadas. A comprimirem o peito. A sufocarem gargantas. A tirarem o ar. É o que paira. O que, por agora, predomina.

Agora. E por mais algum... muito... tempo...

NO BARBIE


Tenho cabelos brancos. Não os pinto. Não o desejo. Gosto deles. São prova do meu amadurecimento, Vida vivida, experiência adquirida.

Digo com orgulho as voltas ao Sol que já completei. Não escondo a idade que tenho, muito pelo contrário, ostento-a: 44 anos. 44! E ainda com tanto para vivenciar... Felicidade pura.

Olho-me ao espelho e acho-me uma mulher muito interessante. Não sou uma mulher bonita, no sentido estético actual. Mas tenho um "je ne sai quoi", que considero mais apelativo e sensual que uma qualquer Barbie. Gosto muito de mim. 

Adoro quem sou. E o que tenho feito por mim, para Ser tudo o que ainda posso e quero. Cuido de mim e mimo-me. Sem culpa. Nem remorsos. Por achar que não sou merecedora. Sou-o. Totalmente.

Olho para trás. E vejo o caminho percorrido. Todas as dificuldades. Todas as dores. Todas as pessoas que, por uma via ou outra, me marcaram. E agradeço. Por tudo. Aprendi. Com todos. 

Olho para o Agora. O trilho que estou a seguir. As pessoas que me acompanham. As de sempre e desde sempre. E as escolhidas. E agradeço. Novamente. Fazem parte do meu núcleo. Reforçam-o. Enriquecem-o. Acrescentam-o. Acrescentam-me.

Vislumbro o futuro. Tudo é possível. Não me limito. Posso Ser. Viver. O que e como quiser. Sendo quem sou. E isso é suficiente. Basta. Eu sou. E estou. Completa. Demorou a cá chegar. Mas o piso é firme. O coração coeso. E a certeza do que ainda aí vem de bom... inabalável.

IR


Faz. Não penses muito na cena. Arranca. Vá.

Ama. Amanhã pode ser tarde. Ontem já passou. Hoje é que vale. Bora.

Atira-te. Mil vezes uma má decisão que nada ter feito. E ficar eternamente presa nos "e se...".

Agarra. A Vida. A que tens. E a que queres. É só uma. E garanto-te: passa num ápice, se a deres por garantida.

Persegue. Os teus objetivos. Sempre centrada. Sempre com a bússola. Do Lado Certo.

Foca-te. Com o Coração. A Alma. Em quem És. Orgulhosa de quem foste. E ciente em quem ainda vais Ser.

E em todas estas acções, que sintas sempre a tua Luz. Que saibas sempre que o Universo sabe o que faz. E que confies sempre na Vida. Nas voltas que ela dá. E no que elas te trazem.

Ou deixam para trás...

BELEZA INTERNA

Bela.
A atitude. A postura. A confiança.

Mulher. 
Que sabe. Que quer. E que vai. Sem medo.

Menina.
Que pede colo. Murmura por mimo. Se enrola no abraço. Sempre.

Mãe.
Que até aos 29 anos julgava que não queria. Que tem os que quis. Que sabe que são para sempre. Incondicionalmente.

Corpo.
Com marcas. Da Vida. Dos 78 kg. E depois dos 47. Que sabe o que é ter vida a nascer dentro de si. E que saboreia a Vida. Agora. Em pleno.

Felicidade.
A contemplação. De quem já fui. E quem sou agora. E do que consegui. Com coragem.

Gratidão.
Por hoje me olhar ao espelho. E adorar o que lá está refletido. Com todos os cabelos brancos, estrias, marcas e medidas fora do padrão dito normal, nele contido. 

Luz.
Porque o que adoro ver em mim não se manifesta no meu exterior. Porque o que me faz sentir bonita, sensual, atraente é eu saber-me inteira. Centrada. Com Luz. 
E isso faz toda a diferença. E nota-se. No exterior...

OUVE...


Por vezes dá um aperto no coração. Que nos apanha completamente desprevenidos. Sem pré-aviso, estremecemos. De susto. Perante a possibilidade de perdermos tudo. Tudo.

O Sol pode não brilhar amanhã. Porque já cá não estás para o admirar. Podes não ver os rostos de quem amas quando acordares. Porque não cuidaste, prezaste, mimaste. Porque deste como garantido. Tudo. E todos...

Ao longo destes 44 anos, tenho lenta mas firmemente integrado que querer antecipar cenários, controlar emoções - próprias e externas a mim - e almejar o perfeito... é um exasperante, infrutifero e inglório gasto energético. De nada vale. De nada serve, com uma excepção: impede-me de viver o Presente. De usufruir do Agora. De apreciar em pleno o Ser - meu e de quem mais prezo.

Por isso decidi há já algum tempo fazer algo que não me é ainda completamente natural. Mas que à medida que o vou escolhendo, diaria e conscientemente, mais fluido e inerente a mim se torna, cada vez mais parte do meu Ser é: Ouvir a minha Voz Interior. A minha Intuição.

E a minha Intuição diz-me 500 mil vezes que devo celebrar o que sou. E celebro.

Que devo dançar dentro do carro ao som de uma musica que adoro, apesar de os outros condutores poderem emitir opiniões menos positivas. E danço.

Que devo saborear cada segundo deste Amor que a mim veio ter, com tranquilidade, serenidade e sem medo. E saboreio.

Todos os dias uma decisão consciente. Uma escolha inerente. Uma opção de Vida. A única. Que pode. E leva.

À Felicidade...