MESCLA

A minha Árvore de Natal não obedece a um estilo. Não está decorada seguindo fashion trend alguma, nem altero em cada ano todos os elementos. Tem de altura cerca de 1,70cm. Muito pequena, segundo a minha cria do meio. E tem mais de 20 anos. 

Por isso é que gosto tanto dela. Faz parte da minha vida à mais de 20 anos. Assistiu ao primeiro Natal da Rita, da Marta e do Pedro. Presenciou as primeiras aberturas de prendas e sorrisos rasgados deles. Tem visto aos seus pés embrulhos imensos. E observou sempre a enorme bisbilhotice infantil, que se anunciava incapaz de aguardar pela meia-noite para saber o que iria receber do Pai Natal. 

E assim vai continuar a ser, enquanto para mim fizer sentido. 

Pratiquei o desapego por decorações, algumas delas com o mesmo tempo de vida da Árvore. Mas nem por isso ela se encontra menos despida. Todos os anos se acrescenta um elemento novo. Diferente. Que não condiz com nenhum dos outros que habitam a Árvore. Mas precisamente por isso, tudo se mescla e flui, tranquilamente. 

Esta Árvore representa-me na perfeição: um Eu inteiro, erguido. Com camadas de consciência mutáveis ao longo dos anos. Com elementos externos que se foram, outros dos quais abri mão, escolhi me desapegar. Mas nem por isso estou menos preenchida, sou menos rica interiormente. Porque há sempre espaço para o novo: pessoas, experiências, memórias. 

Mas a essência, essa, permanece a mesma. Desde sempre...

REGENERAR

Por vezes perdemos uma perna. O Norte. A sanidade. Por vezes arrancam-nos parte de nós, sem dó nem piedade e outras tantas, somos nós a anular, a aniquilar, a deixar ir, sem luta, partes de nós.

Ficamos coxas. Incompletas. Muitas vezes com a sensação de vazias, apesar de tudo permanecer dentro, intacto. Chegamos a acreditar que vai ser sempre assim... este vazio, esta incompletude. 

Por vezes temos de gritar por ajuda. Estender o braço e pedir que nos agarrem. Que nos içem para fora do poço. Por vezes temos de aceitar e abraçar a vulnerabilidade. E expô-la, sem medo.

Porque, por vezes, aceitar a vulnerabilidade significa Força. Coragem. Fé. Nossa e em nós. 

E só por isso, de todas as vezes que foram por vezes, ficamos melhor. Curamos mais um pouco cá dentro. E o que se perdeu... volta a crescer. E a ocupar o seu lugar...