15...



Não acredito. Clichê tipico. Mas não acredito. Como assim, 15?!? 

Ainda tão menina, mas já está anda no secundário. Ainda tão menina mas já sabe o que quer ser quando for grande. Ainda tão menina, dentro de um corpo de mulher. 

O olhar é doce. O abraço sempre apertado. Os afectos não fogem, Martinha, os afectos não fogem. Com medos. Como o resto do mundo. Mas com coragem, a cuidar para que não a dominem. Sempre com vontade de mais um beijinho, mais um abracinho, mais um miminho. 

Já tão mulher... mas ainda, e sempre, menina. A minha menina...

Parabéns Martinha.

ARRUMAR A CASA


Iniciei o meu processo terapêutico em 2013. Após ficar sozinha em Portugal com 3 filhos, o mais novo com apenas 8 meses, ficou evidente. A minha depressão profunda. A incapacidade de sentir emoção alguma. O desejo nulo de viver.


Esta amiga já partilhava comigo a vida muito antes de 2013. Muito antes de me fazer adulta, muito antes de ter filhos, muito antes de iniciar uma vida profissional. Frequentemente a depressão é desvalorizada por quem dela sofre: é só uma fase, anda-se só mais cansada, é só falta de descanso... As desculpas são variadas e a todas se lhes deita imediatamente a mão. Para não se ver. Para não se olhar. Para não se ter consciência. Do enorme elefante branco à nossa frente...

Foi necessário a rigidez facial e emocional, o pensamento suicida e o supostamente inexplicável cansaço, para eu assumir. De que não estava bem. E de que precisava de ajuda externa.

Desde 2013 até agora, tenho percorrido um caminho maravilhoso de descoberta, de autoconhecimento, de validação pessoal. Passei da luta pela sobrevivência, para a tomada de consciência. E daí para a cura interna. 

Já mudei de psicoterapeutas, fiz pausas, pratiquei auto-sabotagens e fiz da resistência ao processo um estandarte. É difícil a cura. Implica retirar o penso e colocar a ferida à vista. Implica ir lá tocar, remexer e por vezes esventrar. Implica assumir que estamos no lodo. E que fomos nós que nos colocamos lá.

Sento-me todos os meses na cadeira. É-me imprescindível esta consulta mensal. Cada vez dói menos. A tomada de consciência é cada vez mais maior. Mais plena. Mais transformadora.

Tenho para mim que me irei sentar todos os meses na cadeira, por muitos, muitos anos. Pretendo continuar a abrir armários, arrumar gavetas e fechar portas. Para que o meu sótão se torne, pouco a pouco, um lugar de pura leveza, serenidade e paz.

Sem medo, para aí caminho. Que assim seja. Assim será...


ÁS VEZES APETECE...


... comportar-me como uma cabra. Mandar à m@@da, dizer "não" só porque sim, ignorar tudo e todos e fazer-lhes o "manguito".

Mas depois lá vem a cena do socialmente correcto, do "tu não és assim; Sónia", do "vá lá, sabes lidar bem melhor com isto"... e lá me acalmo, respiro fundo e apaziguo a minha vontade de mandar tudo para o pequeno cesto no alto dos mastros das caravelas.

Por vezes é uma luta titânica entre a minha criança e a minha adulta. A minha criança quer esticar o dedo do meio, a minha adulta quer esticar o sorriso.

Lá vou conseguindo manter a adulta no comando. Mas em algumas situações, a minha criança lidera, em pensamento. 

Que nunca neguemos a cabra que há em nós. Para nunca esquecermos que precisamos uns dos outros, mas dispensamos totalmente sermos pisados pelos outros. 

Avé, cabra!








TRETAS



Temos uma dificuldade imensa em olhar para dentro. Em olhar para o espelho e reconhecer o que é necessário trabalhar em nós. Assumir que eventualmente os caminhos que escolhemos trilhar não são os que nos levarão onde queremos chegar.

Temos uma dificuldade imensa em acolher a opinião do outro sobre isto mesmo. Em surdina, recusamos ouvir. Sentimos algum embaraço por o outro nos ver de forma tão transparente e portanto, entramos em modo defesa, atacamos: o outro está errado, o outro só sabe criticar, o outro não sabe, o outro não conhece, o outro não tem nada a ver com a nossa vida. Vivemos, portanto, na ilha. Rodeados das nossas verdades absolutas, dos nossos dogmas encrustados na pele, da nossa visão unilateral da realidade. Vivemos com palas nos olhos.

Temos uma dificuldade imensa em permitir mudanças de paradigmas. Estamos à tanto tempo agarrados a uma forma de agir e de reagir, que permitirmo-nos alterá-las significa para nós, fracasso. Tempo perdido. A assumpção de que erramos e investimos tempo e energia, em vão. 
Continuamos então. No mesmo paradigma, no mesmo caminho, no mesmo dogma. Recusamos sair da nossa zona de conforto. Mesmo que ela nos esteja a afixiar, lentamente.

Hoje, do alto dos meus 48 anos e mais de 8 anos de psicoterapia, observo estes comportamentos e compreendo-os totalmente. Já lá estive. Nessa bolha estanque de desresponsabilização, vitimização, manipulação, imaturidade. 

Hoje, do alto dos meus 48 anos, percebo. Que só curamos as nossas feridas, com a tomada de consciência. Que só fazemos diferente e melhor, arriscando outros trilhos, permitindo outras abordagens, estando receptivos a outros olhares sobre as mesmas situações.

Hoje, do alto dos meus 48 anos, reconheço. Cresci, amadureci. Assumo as minhas responsabilidades. Tenho consciência de que as minhas acções influenciam também a vida de outras pessoas, para além da minha. Cuido de agir bem, o melhor possível, sempre que possível. Por mim e por quem me rodeia. A isso chama-se ser adulto. 

O meu pavio começa a ficar curto. Para quem prefere não crescer, para quem prefere manter-se na mesma bolha, no mesmo registo, no mesmo caminho de sempre em direcção ao abismo. A vida não espera sentada, aguardando que um dia finalmente nos caia a ficha; quando menos esperarmos, chega a nossa hora. E depois é tarde demais para fazer seja o que for. Por isso, por favor, deixemo-nos de tretas...