DEIXAR...


Deixar pousar. Respirar. Abrandar o ritmo e simplesmente admirar. Observar. Contemplar.

Deixar de correr. Desacelerar. Parar e olhar à volta. Regozijar. Agradecer.

Deixar fluir. Abraçar. Integrar o que vem. Amar. Abrir.

Deixar de duvidar. Compreender. Aceitar que se merece. Desejar. Amar.

Tudo... Aqui... Agora...

Eu. Tu. Nós...

PARVA...


Demorei muito tempo a perceber que podia ficar sozinha. Que me safava. Que me podia sustentar. Nos afectos. Na Vida. Apenas com o meu Amor-Próprio. 
Demorei. Parva...

Demorei muito tempo a perceber que era imensa. Que brilhava. Que ofuscava. Que ocupava. Que incomodava. Só por ser eu. E que me estava nas tintas para esse desconforto alheio.
Demorei. Parva...

Demorei muito tempo a perceber que tudo é na realidade muito simples; se te incomoda, ignora; se te subtrai, apaga; se te puxa para baixo, corta. 
Foi sempre tão simples. Parva...

Demorei muito tempo a perceber que mereço. Que posso e devo exigir. Que nada nem ninguém me pode prender. Que eu é que decido. Que posso sonhar. E desejar. Que mais cedo ou mais tarde, o que me pertence virá ao meu encontro.
Mesmo parva...

Demorei muito tempo a desacelerar. A desapegar. A descontrair. A ansiar na dose certa. A planear apenas quando estritamente necessário. A encarar o Medo de frente, não lhe permitindo grande espaço. A perceber os meus padrões de comportamento limitativos e a desconstruí-los.
Até que enfim. Sua parva...

Demorei. Porém, no capítulo do Ser Feliz, não há hora marcada. Atrasos. Fora de tempo. Passado.

Para a Felicidade, o momento é este instante. Ou daqui a 5 minutos. É admirar aquele pôr do Sol. Sentir o cheiro da relva acabada de cortar. Receber o abraço apertado. Ou apenas contemplar o mar revolto.

Felicidade é sentir-me livre, totalmente livre. Imensa. Amada. Serena. Luz.

Como agora. Como hoje.

Parva. Mas não hoje. E, espero, jamais...

TRIO-LUZ


Um Beijo. Na Alma. Na Pele. Que se come e nunca sacia. Que se pede e nunca é suficiente. Que acalma. E desespera.

Um Abraço. Que enrola, desenrola e aperta. Que envolve e desenvolve sensações mil. Que promete e ampara. Que segura. E desconstrói.

Um Olhar. Profundo. Directo. Onde nos perdemos. E queremos. Espelho. Onde transparece o Essencial. Que sossega. E assegura. Que bem lá no fundo...

Só Eu. Tu. E Nós...

15...


À 15 anos atrás estava no hospital. Para ser mãe da primogénita. Não sabia para o que ia...

O meu pai vem visitar-me. Olha-me com carinho. Não sabe o que me dizer. Sabe que vai ser avô. Mas não sabe o que me dizer. Oferece-me um sorriso cúmplice e com a sua mão faz-me um carinho na face. Não me recordo de alguma vez o ter feito, até aquele dia... respondo-lhe com um sorriso tímido. Não sei o que lhe dizer. Sou sua cúmplice nisso...

Nasce às 02H25 do dia 14 de Novembro. O meu novo papel. A nova esfera da minha vida. Não sinto dores, a epidural cumpre exemplarmente a sua função. A bebé está bem. Sinto-me um robot. Mostram-me aquele ser embrulhado na manta, ensanguentado e enrugado. Sei que é minha filha. Não compreendo ainda o conceito. Penso "e agora...?" Esboço sorrisos, tento sentir algo. O cansaço não deixa.

No dia seguinte, novo olhar sobre aquele ser. Começa a jorrar do meu coração um Amor bruto, limpo, intenso. Jorra sem fim. Sinto-me assorbebada. Simultaneamente deslumbrada. Incomoda-me que saia dos meus braços. Custa-me partilhá-la. Não sabia para o que ia...

À 15 anos atrás sabia nada. Hoje, nada sei. Ensino muito pouco, comparando ao que me é ensinado diariamente.

Nada sei. Apenas que existe o Amor. Incondicional. Que ele se multiplica infinitamente. Que o coração é elástico. E que alberga muito mais do que alguma vez imaginei.

Nada sei. E que bom é, dia após dia, aprender. E saborear. O Incondicional.

Não sabia para o que ia... e o que iria acontecer. Pois desde esse dia, dentro do meu coração pulsam outros.

E em cada um deles, pulsa o meu...

EMANCIPAÇÃO


Tinha 15 anos. E namorado. Que, apesar de recente, era reconhecido pela minha mãe de que poderia ser coisa à séria. Como todas as paixonetas nestas idades são...

Tinha 16 anos. Ainda o mesmo namorado. E portanto, para a minha mãe, hora de ter "A" conversa barra esclarecimento barra informação... sobre educação sexual. Resumida, basicamente, a um mero aviso sobre vantagens da castidade, encantamentos de manter a virgindade até à noite de núpcias e temores sobre o que os rapazes fazem e dizem sobre as raparigas que se entregam a eles só porque querem. Sem estarem casadas. Ou, no minimo, sem terem casamento marcado. Como se isso fosse garantia de coisa alguma...

Entendi tudo o que me disse. Emiti zero comentários. Corei de certeza enquanto a ouvia. Menti com todos os dentes quando respondi que sim, ainda era virgem. Corei de certeza mais ainda enquanto a mentira disparava da minha boca. E pensei, por momentos, "minha nossa, não posso contar contigo se as dúvidas sobre o meu corpo me assolarem, se as inseguranças sobre se sou mulher suficiente para o meu namorado me atingirem, se o susto de uma possivel gravidez me aterrorizar..."

Outros tempos, sei e aceito-o agora. A minha mãe, apesar da conversa para mim desinformativa e sintomática de certos dogmas circundantes sobre como a sexualidada pelas mulheres deve ser vivida, subiu vários degraus em relação à forma como a sua mãe geriu isto da sexualidade no feminino. Embuída com certeza de uma forte dose de coragem, tomou a iniciativa de ter esta conversa comigo. A sua mãe teve nenhuma. Nenhuma. Nem nas vésperas do casamento com o meu pai.

Sempre assumi para mim que com os meus filhos seria diferente. Filhos - não apenas filhas. Porque a sexualidade ainda é vivida com dogmas e preconceitos, independentemente do género.

Prestes a completar 15 anos em breve, a mais velha. A conversa sobre a mecânica da coisa já aconteceu tinha ela 12 anos. A conversa sobre o que, para mim, mais interessa, fiz questão que acontecesse nas vésperas de um passeio da escola de 3 dias, onde adolescentes com as hormonas aos saltos iam estar fora de casa, em regime de campismo... conversei com ela sobre Poder. Emancipação. Controlo. Liberdade. Total. Dela. Sobre o seu corpo. E a sua Vontade.

Ela pode fazer o que quiser. Com quem quiser. As vezes que quiser. Em consciência. De que é o que Ela quer. E não para agradar ou ceder a chantagens baratas de "se gostasses de mim..". Não há namorados para a vida. Experimentação sim, por favor. Viver o corpo, em Liberdade. Sem pudor. Mas sempre, sempre, em consciência. De que pode fazer o que quiser. Desde que seja respeitada. A sua alma, o seu coração e o seu corpo. 

Sempre em segurança. Sempre. Entrar em contacto com doenças sexualmente transmissiveis não deve ser uma possibilidade. Sugeri-lhe guardar na carteira o preservativo que coloquei à sua frente. Indiquei-lhe onde estavam guardados os restantes. Assegurei-lhe que não era preciso pedir-me autorização para os utilizar. Alguém estava corado, mas não era eu.

Sei que confia em mim. Sei que quando tiver alguma duvida virá ter comigo. Seja ela qual for. Espero ser fiel depositária dos seus segredos sobre os primeiros suspiros, as primeiras experiências, as primeiras desilusões. 

Se assim acontecer, bem... subi a escadaria toda... em prol dela. Em prol deles. Da sua Liberdade. E incondicional... Emancipação.

REPETE...


Guarda dentro de ti a Certeza. De que é Real.

Agarra com unhas e dentes a Crença. No Amor.

Não abdiques - nunca! - do que Queres. Ser Feliz.

E repete, todos os dias: Eu Mereço!

CRESCIDA...


Forte. Dura. Resiliente. Intransponível. De diamante. Indestrutível. Herculeana. A Fé. No Caminho que estou a calcorrear. No Foco que nunca me deve abandonar. No fiel Destino que tracei para mim... Ser. 

Doce. Incondicional. Omnipresente. Resplandecente. Puro. O Amor. Que todos os dias escolho acolher em mim. Que é Luz nas trevas da solidão até agora escolhida. Que me faz Sonhar, Arrepiar, Suspirar... Sempre.

Ao Universo... obrigada. 
À Vida... gratidão.
A Ti, minha Pessoa... orgulho.

... estás tão crescida...

UM SONHO REAL


A pele arde a cada toque.

O coração bate violentamente.

O desejo queima o ar.

Saboreio cada milímetro com calma.

Ouço a voz a sussurrar-me ao ouvido "és minha!".

Concordo totalmente. Rendo-me incondicionalmente.

Os minutos passam. As horas perdem-se. O mundo só existe neste momento, neste local, nestes corpos.

Nada é demais. Nada é proibido. Tudo é permitido.

Viajar até à Lua. Ir ao fim do mundo. Juntos...

Acordo.

Um sonho...?

Ou a doce recordação da realidade...?

ACREDITA


Ainda não acreditas...

Ainda não acreditas que é real. Que veio ao teu encontro. Que esteve à tua espera. Anos....

Ainda não acreditas que tu estiveste a aprender. E a preparar-te. Para o receber. E abraçar. De peito aberto. E alma limpa...

Ainda não acreditas. Que é possivel. O extraordinário. O transcendente. Só para ti. Só a ti... dedicado...

Ainda não acreditas. Que afinal existe. Em pele e osso. Que o podes ver. E tocar. E amar. Incondicionalmente...

Ainda... não acreditas. Que tudo o que sempre desejaste... está mesmo aqui. À tua frente. A olhar para ti...

Mas podes. Acreditar.

Por isso vai lá, minha Pessoa.

Vai lá. Ser Feliz...