ISOLAMENTO DOS AFECTOS


Porque os amo, não lhes posso tocar. Abraçar. Beijar. Cheirar sequer. Os meus filhos. Não posso. Porque os amo.

Não previa esta dor. Que me aperta o peito e me suga o ar. Não os posso ver... só através de um pedaço frio de matéria num telemóvel, que não é capaz de transmitir o calor do meu corpo, de colocar a minha a mão nas suas faces, de os enrolar nos meus braços, num abraço apertado.

E o que me dilacera? Desconheço o quando. Não sei quando será seguro que corram para os meus braços. Não sei quando poderei sorrir com eles enquanto estamos todos sentados à mesa a jantar e a falar baboseiras. Não sei quando... Só sei que esse quando está longe. E esse longe... sufoca-me...

Eu explico. Lhes. Me. Descrevo todas as razões factuais pelas quais não podem estar com a mãe. Quero acreditar que compreendem. Que sabem que a quarentena imposta, a sua segurança e a sua saúde, falam mais alto que a vontade visceral de estarmos juntos. Quero acreditar que sabem que, para a mãe deles, esta ausência não é escolhida. Não é egoísmo. Não é não lhes sentir a falta. Quero acreditar...

No meio deste Apocalipse, agarro-me ao que me é firme: o Amor. Por eles. Por ele. Por mim. E confio. De que apesar do Caos, sairemos incólumes. E capazes de vislumbrar e viver a Vida, de uma perspectiva completamente diferente. 

Talvez... a perspectiva que sempre deveria ter sido...

Sem comentários:

Enviar um comentário