Com coragem


Conheço as muralhas. Conheço-as muito bem. Construí-as ao longo do tempo, durante muito tempo. Atingiram alturas inimagináveis. Eu era invisivel dentro delas. Não existia. Não queria existir fora delas. Essas muralhas proporcionavam-me uma falsa ilusão de protecção. Na verdade, não me protegiam de nada, apenas me impediam de viver, de sentir... o que estava mesmo ao meu alcance e para meu proveito, mas que coloquei do lado de fora...
As muralhas constroem-se. Mas felizmente também se deitam abaixo. Podem voltar a reerguer-se, mas que seja apenas para a sobrevivência básica, para a protecção minima, para a indispensável calma e segurança de ter alguma rede.

O que for para além disso... é prisão. Auto-imposta.

Sento-me no topo delas. Olho para baixo e contemplo, perplexa: ergui-as assim tão alto...? Sufoquei-me assim tão sofridamente...? Enclausurei-me assim tão profundamente...?

Hoje, convivo com as memórias delas. Servem para me centrar e alinhar. Para me balizar.

Viver. Sentir. Amar. Com calma. Sem medo. E com muita coragem...

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