BELEZA DE PEDRA


A ilusão do encantamento. Linda, bela, sedutora, mas prisioneira. Sem pernas para caminhar, para se alinhar no seu percurso, para pegar na mochila e ir. Não interessa para onde, apenas ir.
(na verdade, "para onde" interessa. Passam-se anos a andar, a correr, mas sem direcção, sem foco, sem saber para onde se quer ir. Por consequência, nunca se lá chega. Ao "não se sabe para onde")

Bela, sedutora, mas presa. Entoa os cânticos mas ninguém a salva, ninguém a ama. De verdade. Espera, mas ninguém vem. Deseja que a sua salvação seja o outro, nunca ela. Define para si que o seu papel nesta vida é só um e que não pode ser alterado, sob pena de perder a sua essência. Mas qual é a sua essência? Não sabe. Ainda assim, mantém-se irredutivel. Na ilusão do encantamento. Do encantamento de que será salva. Por alguém.

Vida triste esta, que se move apenas pela ilusão do não poder, do não estar ao seu alcance, do não ser o próprio a definir e trilhar o seu caminho. Tantos de nós com pernas para andar, mas paralisados, sem nos movermos para lado algum. Ou então, a corrermos feitas baratas tontas para todo o lado mas sem chegar a porra de destino algum.

Vida triste esta, que sente que não tem estrutura suficiente, que não é atraente o suficiente, que não é interessante o suficiente, que não tem em si a força interior suficiente (os outros são sempre mais, são sempre melhores, têm sempre tudo...).

Vida triste, esta. De fazer a pose, de simular sorrisos, de esconder vulnerabilidades, de fingir que sente.

Não se sente nada quando estamos dormentes de dor. Quando estamos com a cabeça enfiada na areia. Quando o medo toma conta de nós e nos aniquila a vontade de viver em pleno, de sentir tudo, de ser inteiro.

A estátua é bonita. Mas é de pedra. Sem vida. Sem amor. No final do dia, fica só. Sempre.

Por isso, que se integre esta Verdade Absoluta: Tu és imensa. Tu és inteira. Tu bastas-te. E, no final dia, a única pessoa que te salvará... és Tu. 

Que assim seja. Hoje e sempre.

Sem comentários:

Enviar um comentário