A solidão da lateralidade

Crescer e envelhecer passa, entre muitas coisas, por observar a hierarquia familiar modificar-se, de tal forma que, a dada altura, somos nós os mais velhos. Os nossos avós vão partindo, os nossos pais também... é a lei natural da vida. Deixamos de ser os netos, deixamos de ser os filhos e passamos a ser apenas os irmãos, se irmãos tivermos e/ou o patriarca/matriarca da família que entretanto, se for o caso, também fomos constituindo. Já não estamos "abaixo de" na árvore, passamos a estar apenas "ao lado de"...
 
Deixarmos de ter alguém "acima" de nós, alguém que ainda "cuida" de nós, pode ser um doloroso desafio. De repente, já não temos aquele "colinho" que, apesar de já sermos bem crescidos, sabíamos que estava sempre lá à nossa espera, "para o que desse e viesse".
 
É hora de testar a nossa capacidade de gestão autónoma e independente da nossa vida, de verificar os níveis de autoconfiança e de avaliar se somos capazes de superar saudavelmente a dor e seguir em frente - muito facilmente podemos cair na armadilha paralisante de reviver ininterruptamente as memórias de quem já partiu, e esquecermo-nos de quem vive à nossa volta e nos é próximo, cuja presença pode representar um recurso fundamental para conseguirmos fazer devidamente o luto e recuperar a alegria de viver.

1 comentário:

  1. E que tudo seja uma doce, tranquila e natural continuidade... será esse o verdadeiro desafio! Com a força do passado como legado para o futuro!

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