EU TENHO MUITO E TU NADA - A PARVA DA DICOTOMIA

"O que é Dicotomia:

Dicotomia é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno, etc..

Com origem no grego dikhotomía, uma dicotomia indica uma classificação que é fundamentada em uma divisão entre dois elementos.

No contexto do direito, muitos autores abordam a dicotomia entre direito público e privado.

Em botânica, também acontece a dicotomia, onde há a divisão de uma célula em duas, dando cada uma, origem a outras células. Ainda na botânica, a tricotomia indica um órgão de uma planta que é subdividido em três.

Há a falsa dicotomia, que mostra uma situação com dois pontos de vista alternativos, e são colocados como se fossem as únicas opções , quando na realidade podem existir outras opções que não foram levadas em consideração, ou podem as duas ser escolhidas juntos."
in http://www.significados.com.br/dicotomia/


Em todas as partes do mundo há desigualdades de vários tipos: sociais, de género, de oportunidades no mercado de trabalho, de acesso a educação, etc.. Enfim... Em todas as partes do mundo.

Mas eu só conheço uma ínfima parte deste nosso mundo: o meu Portugal e agora a minha Angola.

E nesta agora minha Angola, especificamente em Luanda, os contrastes sociais e económicos são visíveis diariamente e a olho nu. Sem hipótese de olhar para o lado e fingir que não se vê. Sem possibilidade de alegar desconhecimento.

Diariamente vejo automóveis a circular cujo valor de compra é 20 vezes superior ao salário mínimo angolano. E vejo muitos automóveis desses. Muitos.

Diariamente também, vejo crianças a brincar na rua com roupa inequivocamente gasta. Demasiadas.

Vejo também diariamente mulheres a carregar mercadoria para venda na cabeça enquanto carregam nas costas o seu bebé, para no final desse dia ganhar apenas o suficiente para colocar uma refeição na mesa à noite.

E diariamente também observo homens e mulheres com roupas, calçado e acessórios de preço tão elevado quanto baixo é o valor de compra do chinelo que outros homens e mulheres usam.

Esta é a dicotomia visível, nua e crua a que assisto diariamente por estes lados. Mas esta não é a dicotomia que mais me choca.

A que mais me choca é a outra, a falsa. A crença na falsa dicotomia social de que existem estados sociais imutáveis, de que é impossível almejar ter uma vida melhor, de que é impossível aos que usam o chinelo barato também poderem um dia vestir e calçar aqueles artigos que para a maioria das pessoas custam o equivalente a um ano de salário. Ou seja, de que quem é rico assim o será sempre e quem é pobre assim o será sempre também, como se essa fosse a ordem natural das coisas...

E a seguir a esta dicotomia falsa, o que mais me choca é a crença de superioridade de alguns sobre os demais, apenas porque pertencem a uma classe social dita "mais alta" ou porque têm muito mais dinheiro do que esses demais; é a crença de que nada podemos fazer para alterar o lado onde nos situamos na sociedade. E que temos de nos resignar a este estado imutável das coisas e aceitar apenas o que vier. Mesmo que a miserabilidade seja o que vier.

Estas crenças são interiorizadas desde tenra idade e têm o potencial de se perpetuar inevitavelmente. 

Até que alguém demonstre o contrário...

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