A MULHER ANGOLANA E A SUA FORÇA

Tela representando as "Zungueiras" no seu dia a dia.
Créditos: angola-africa.forum-ativo.com

Angola encerra em si diversos contrastes, mas a um sou particularmente sensível: a exaltação na sociedade da mulher angolana como mulher forte e guerreira, ao mesmo tempo que lhe impõe diariamente diversas dificuldades para conseguir igualdade de direitos juntamente com os homens.

Em Angola comemora-se a 2 de Março o Dia da Mulher Angolana. O Dia da Mãe também é celebrado por estes lados, mas a celebração do Dia da Mulher Angolana assume uma importância superior pelo reconhecimento do seu papel activo na luta de resistência do povo angolano contra a ocupação colonial portuguesa, como por exemplo a rainha Ginga Mbandi, num passado longínquo, e num passado recente Deolinda Rodrigues, Irene Cohen, Engrácia dos Santos, Teresa Afonso e Lucrécia Paim, para citar apenas alguns nomes.

Em 1962 foi criada a OMA - Organização da Mulher Angolana - como ala feminina do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que desenvolveu uma influência crucial no apoio às forças guerrilheiras, dentro e fora de Angola. Actualmente, a OMA é a maior organização social do país, com mais de dois milhões e quinhentos mil membros enquadrados em mais de 49 mil secções no interior e exterior do país.

Não obstante o que se faz no terreno por esta e outras organizações similares, há a consciência geral de que a mulher angolana continua ainda a enfrentar inúmeros problemas para a sua plena emancipação, como o alto grau de analfabetismo, a desigualdade nas oportunidades de emprego e de ascensão sócio-profissional e a violência doméstica sistémica.

Principalmente nos meios rurais, persiste ainda uma cultura tradicional de socialização das crianças, em particular das crianças do sexo feminino, apoiada na discriminação da mulher no que ao seu papel na sociedade e no seio da família diz respeito. 

Não é fácil ser mulher em Angola. Para a grande maioria das mulheres, ser mulher em Angola é ser a dona de casa que sustenta a família e que suporta o marido agressivo, que por vezes é polígamo - uma condição própria e cultural nos países de África. 

No entanto, quase paradoxalmente, a mulher angolana é retratada e celebrada como a mulher forte, a guardiã e protectora da família e do lar.

É por isso que quando vejo na rua as zungueiras - as mulheres que vendem na rua os mais variados artigos (com uma margem de lucro ínfima...) - com um filho às costas e a enfrentar 12, 14 e 16 horas de trabalho por dia, todos os dias, 7 dias por semana, a minha reacção é de admiração, de profunda admiração. 

Na Europa debate-se - e muito justamente - o direito a 6 meses de licença de maternidade em detrimento dos actuais 5 meses mas por aqui... por aqui não há licença de maternidade para muitas mulheres. Se não trabalharem, nem que seja por alguns dias, os seus filhos passam fome. Literalmente. E no entanto, apesar de tantas dificuldades que enfrentam, é fácil encontrar-lhes no rosto a doçura e no sorriso o carinho que nutrem pelos seus filhos e família.

São guerreiras sim estas mulheres angolanas. São resilientes, corajosas, fortes sim estas mulheres angolanas.

Eventualmente algumas destas mulheres não acreditarão que possuem tamanha força interior. Mas esse pormenor não lhes tira nem uma grama. São um exemplo estas mulheres. São sim.

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