24 DE MAIO 2015 - O DIA EM QUE O IMPENSÁVEL COMEÇOU

No dia anterior tinha levado a minha mãe à sessão de apresentação de um livro infantil de uma pessoa minha conhecida. Com ela e com os meus filhos passamos uma tarde relaxada e um final de dia tranquilo.

No dia seguinte fui sozinha com os miúdos ao Mini NOS Primavera Sound - uma indisposição de ultima hora impediu o meu afilhado e compadres de irem comigo. Ainda pensei em não sair de casa pois nunca tinha ido sozinha com os meus três filhos a um evento, uma adulta para três crianças pode bem ser "areia de mais para a minha camioneta", pensei eu. Mas antecipava-se uma tarde tão gira para nós... a lancheira já estava preparada... os miúdos empolgados por irem ao seu primeiro "Festival de Verão"...

Decidi ir, com a certeza de que se acontecesse alguma coisa e precisasse de ajuda, era só pegar no telemóvel e ligar para alguém.

Quando cheguei ao recinto do Festival dou-me conta que o telemóvel tinha ficado esquecido em casa. Mas não fiquei preocupada. Sem perceber muito bem como, sentia-me descontraída e alegre por proporcionar aquela experiência aos miúdos - estavam a vivenciar uma tarde bem diferente num parque fantástico, a ouvir boa música e a fazer actividades super interessantes. E estava sozinha com eles. Mas tranquila.

Como nessa tarde não tinha o telemóvel comigo, não atendi as muitas chamadas que o meu irmão e cunhada fizeram. Não ouvi as chamadas de voz desesperantes que deixaram. Não li as mensagens de aflição que escreveram. Só quando cheguei a casa, já passava das 23H00, é que vi e li tudo isso. E ouvi, quando o meu irmão finalmente consegue falar comigo: "A mãe está no hospital. Desmaiou esta tarde. Suspeita-se que tenha sido um AVC."

E pronto. A partir das 23H00 do dia 24 de Maio de 2015, dei-me conta que enquanto eu estava a divertir-me com os meus filhos no Parque da Cidade em Matosinhos, o cérebro da minha mãe dava o primeiro sinal de que o principio do fim tinha despertado, num workshop de pintura em Oliveira de Azeméis.

A partir desse dia e até ao dia 16 de Julho, foram só altos e baixos de esperanças ganhas e perdidas, de expectativas geradas e frustradas, de angustias escondidas e desesperos mascarados para não desanimar a minha mãe, de aflições e tristezas por ver a vida a fugir-lhe do corpo, a fugir-lhe do pensamento, a esvair-se rapidamente num rol de limitações e complicações médicas. 

A serenidade não teve qualquer hipótese de se chegar perto da minha mãe nem dos seus filhos à medida que, sem que nenhum de nós o dissesse em voz alta ou ousasse sequer pensá-lo por mais do que dois segundos, nos íamos dando conta da chegada do final.

Porque até ao ultimo segundo do ultimo dia, ainda não tínhamos aceitado que o impensável iria mesmo acontecer.

Tenho muitas saudades tuas, mãe...

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