TINHAS RAZÃO, AMIGA!

Areia castanha que o felicíssimo P. orgulhosamente mostra à mãe

Mãe descansa debaixo do baloiço enquanto olha demoradamente para a árvore que lhe traz sombra

"Angola vai fazer-te bem!", dizia uma amiga minha, estava eu ainda em Portugal, a propósito da minha aflitiva preocupação com as mãos sujas dos miúdos, com um pouco de molho de tomate e de gordura da pizza que estavam a devorar. Os mais novos a comer descansados e eu atrás deles com guardanapos de papel a limpar-lhes a mãos de 5 em 5 segundos!

"Angola vai fazer-te bem! Vais deixar de te preocupar com certas coisas e relaxar!" Disse-me ela a sorrir, enquanto me observava a tentar respirar fundo, sem grande sucesso. 

Devolvi-lhe o sorriso.
(És capaz de ter razão. Embora neste momento não o consiga visualizar...)

Agora que vou a caminho do terceiro mês em Luanda, reconheço algumas mudanças em mim. Nas pequenas coisas. Há qualquer coisa nesta terra, com este clima, que faz o tempo andar mais devagar, o stress diminuir e que transforma certas regras antes rígidas e por isso geradoras de conflitos para guias de comportamento com abertura para a flexibilidade e negociação. 

Bem, ainda assim a anarquia não entra em casa. Os miúdos andam limpos à mesma, mas se cai uma nódoa na camisola ou se vira uma gota de sumo no calção, já não vou a correr ao armário buscar uma peça limpa para trocar! A menos que estejamos de saída para um evento VIP, não há necessidade de trocar roupa que, inevitavelmente se irá sujar à mesma com a brincadeira no parque ou com a jogatina de bola no pátio. E mesmo que tenha acabado de calçar as sandálias ao mais novo e 5 minutos depois o vir a correr descalço no pátio, isso já não me irrita e não o obrigo a calçar novamente as sandálias (embora esteja absolutamente proibido de se sentar no sofá da sala sem limpar os pés antes!). 

É que eu sou daquelas pessoas que nem se dão conta que estão em piloto automático em determinadas situações. Quantas vezes fui jantar a casa de amigos próximos, onde as pesadas regras de etiqueta ficam na gaveta pois estamos todos à vontade - se alguém partir um copo de vinho o anfitrião não se chateia - e eu passava o jantar todo a fiscalizar os meus filhos para ver se comiam tudo, se não deitavam comida para o chão, se as mãos estavam limpas, se a boca estava gordurosa, se não partiam um copo, se não falavam com comida na boca... por mais de uma vez fui retirada desse estado quase hipnótico com um "Ó Sónia! Pára lá de controlar os miúdos! Eles portam-se sempre bem, estás a stressar para quê?"
(pois... os miúdos realmente comportam-se bem...)

A forma como a gente desta terra vivencia as amizades e os convívios, a importância que a musica tem na forma como todos se relacionam e o tipo de clima que parece dar mais sabor ao refresco de final de tarde (tenha ele álcool ou não...), tudo isto mexe connosco de forma inexplicável e provoca mudanças interiores positivas. 

Já não me lembro da ultima vez que entrei em piloto automático...

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