Os degraus da amizade

 
Voltando aos amigos, mas agora com outra interrogação: melhores amigos para quê?
 
Quem não teve a dada altura da sua vida um melhor ou melhor amiga, aquele ou aquela que hierarquicamente estava acima de todos os outros amigos, aquele ou aquela a quem contávamos tudo, mesmo tudo!, a quem confiávamos os segredos mais importantes, com quem falávamos horas a fio, a quem pedíamos para escrutinar aquele rapaz ou rapariga por quem estávamos enamorados...; se o pretendente fosse aprovado, cabia-nos depois a tarefa de desencantar dos confins do nosso ser a coragem para abordarmos o objeto do nosso desejo e perguntar-lhe se gostaria de namorar connosco. Faltando a coragem, mandávamos o escrutinador perguntar por nós.
 
Á medida que fui caminhando para a minha vida adulta, o conceito de melhor amiga ou amigo foi-se esbatendo lentamente. Tantas as fases de crescimento por que passei, tantos os amigos que me acompanharam e contribuíram para esse crescimento, aprendizagem e amadurecimento. Cada um deles, pela personalidade, vivência e experiência de vida, foi importante para mim e me enriqueceu a  vários níveis. Cada um deles a um nível diferente.
 
E até á alguns anos atrás, eu achava que tinha de conviver com todos os amigos de forma igual. Se convidei um para um café, tenho de convidar o outro. Se vou jantar a casa de um, o outro também devia ir, se vou ao cinema, temos de ir todos.
 
Foi-me concedido o privilégio de ter duas mãos cheias de excelentes amigos. Daqueles que são para a vida. E não preciso de aumentar a quota. Preciso é de cuidar bem deles. Porque cada um deles, à sua maneira, contribui para a riqueza da minha vida. Porque cada um deles me ajuda a ser uma pessoa em evolução. Porque preciso das personalidades distintas, das diferentes experiências de vida, das particulares formas de estar na vida, de cada um deles. Com um determinado amigo posso falar livremente dos mistérios do Universo, com outro desabafo sobre as minhas inseguranças enquanto mãe, com outro saio à noite para ouvir música num bar, e com outro ainda tomo longos pequenos-almoços.
 
O tempo que passo com cada um deles é especial e irrepetível. Não dá para "meter todos no mesmo saco". Por isso, hoje em dia não tenho uma hierarquia na amizade. Tenho sim o meu coração repleto de caixinhas onde guardo cada amizade. Todas as caixinhas são diferentes. Mas todas são iguais em tamanho, ou seja, infinitamente gigantescas! Como a amizade que me une a cada uma delas...

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