ARRUMAR A CASA


Iniciei o meu processo terapêutico em 2013. Após ficar sozinha em Portugal com 3 filhos, o mais novo com apenas 8 meses, ficou evidente. A minha depressão profunda. A incapacidade de sentir emoção alguma. O desejo nulo de viver.


Esta amiga já partilhava comigo a vida muito antes de 2013. Muito antes de me fazer adulta, muito antes de ter filhos, muito antes de iniciar uma vida profissional. Frequentemente a depressão é desvalorizada por quem dela sofre: é só uma fase, anda-se só mais cansada, é só falta de descanso... As desculpas são variadas e a todas se lhes deita imediatamente a mão. Para não se ver. Para não se olhar. Para não se ter consciência. Do enorme elefante branco à nossa frente...

Foi necessário a rigidez facial e emocional, o pensamento suicida e o supostamente inexplicável cansaço, para eu assumir. De que não estava bem. E de que precisava de ajuda externa.

Desde 2013 até agora, tenho percorrido um caminho maravilhoso de descoberta, de autoconhecimento, de validação pessoal. Passei da luta pela sobrevivência, para a tomada de consciência. E daí para a cura interna. 

Já mudei de psicoterapeutas, fiz pausas, pratiquei auto-sabotagens e fiz da resistência ao processo um estandarte. É difícil a cura. Implica retirar o penso e colocar a ferida à vista. Implica ir lá tocar, remexer e por vezes esventrar. Implica assumir que estamos no lodo. E que fomos nós que nos colocamos lá.

Sento-me todos os meses na cadeira. É-me imprescindível esta consulta mensal. Cada vez dói menos. A tomada de consciência é cada vez mais maior. Mais plena. Mais transformadora.

Tenho para mim que me irei sentar todos os meses na cadeira, por muitos, muitos anos. Pretendo continuar a abrir armários, arrumar gavetas e fechar portas. Para que o meu sótão se torne, pouco a pouco, um lugar de pura leveza, serenidade e paz.

Sem medo, para aí caminho. Que assim seja. Assim será...


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