EMANCIPAÇÃO


Tinha 15 anos. E namorado. Que, apesar de recente, era reconhecido pela minha mãe de que poderia ser coisa à séria. Como todas as paixonetas nestas idades são...

Tinha 16 anos. Ainda o mesmo namorado. E portanto, para a minha mãe, hora de ter "A" conversa barra esclarecimento barra informação... sobre educação sexual. Resumida, basicamente, a um mero aviso sobre vantagens da castidade, encantamentos de manter a virgindade até à noite de núpcias e temores sobre o que os rapazes fazem e dizem sobre as raparigas que se entregam a eles só porque querem. Sem estarem casadas. Ou, no minimo, sem terem casamento marcado. Como se isso fosse garantia de coisa alguma...

Entendi tudo o que me disse. Emiti zero comentários. Corei de certeza enquanto a ouvia. Menti com todos os dentes quando respondi que sim, ainda era virgem. Corei de certeza mais ainda enquanto a mentira disparava da minha boca. E pensei, por momentos, "minha nossa, não posso contar contigo se as dúvidas sobre o meu corpo me assolarem, se as inseguranças sobre se sou mulher suficiente para o meu namorado me atingirem, se o susto de uma possivel gravidez me aterrorizar..."

Outros tempos, sei e aceito-o agora. A minha mãe, apesar da conversa para mim desinformativa e sintomática de certos dogmas circundantes sobre como a sexualidada pelas mulheres deve ser vivida, subiu vários degraus em relação à forma como a sua mãe geriu isto da sexualidade no feminino. Embuída com certeza de uma forte dose de coragem, tomou a iniciativa de ter esta conversa comigo. A sua mãe teve nenhuma. Nenhuma. Nem nas vésperas do casamento com o meu pai.

Sempre assumi para mim que com os meus filhos seria diferente. Filhos - não apenas filhas. Porque a sexualidade ainda é vivida com dogmas e preconceitos, independentemente do género.

Prestes a completar 15 anos em breve, a mais velha. A conversa sobre a mecânica da coisa já aconteceu tinha ela 12 anos. A conversa sobre o que, para mim, mais interessa, fiz questão que acontecesse nas vésperas de um passeio da escola de 3 dias, onde adolescentes com as hormonas aos saltos iam estar fora de casa, em regime de campismo... conversei com ela sobre Poder. Emancipação. Controlo. Liberdade. Total. Dela. Sobre o seu corpo. E a sua Vontade.

Ela pode fazer o que quiser. Com quem quiser. As vezes que quiser. Em consciência. De que é o que Ela quer. E não para agradar ou ceder a chantagens baratas de "se gostasses de mim..". Não há namorados para a vida. Experimentação sim, por favor. Viver o corpo, em Liberdade. Sem pudor. Mas sempre, sempre, em consciência. De que pode fazer o que quiser. Desde que seja respeitada. A sua alma, o seu coração e o seu corpo. 

Sempre em segurança. Sempre. Entrar em contacto com doenças sexualmente transmissiveis não deve ser uma possibilidade. Sugeri-lhe guardar na carteira o preservativo que coloquei à sua frente. Indiquei-lhe onde estavam guardados os restantes. Assegurei-lhe que não era preciso pedir-me autorização para os utilizar. Alguém estava corado, mas não era eu.

Sei que confia em mim. Sei que quando tiver alguma duvida virá ter comigo. Seja ela qual for. Espero ser fiel depositária dos seus segredos sobre os primeiros suspiros, as primeiras experiências, as primeiras desilusões. 

Se assim acontecer, bem... subi a escadaria toda... em prol dela. Em prol deles. Da sua Liberdade. E incondicional... Emancipação.

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