O desfalecimento é uma queda. Perdemo-nos, alheados da realidade, num sono confuso e atribulado. O olhar fica turvo, a única pessoa à nossa frente passa a ter 4 cabeças e múltiplos braços. Queremos fugir da cama mas o corpo não segue as ordens do cérebro. O olhar começa a ficar vazio. Demora-se a formular uma frase dita normalmente num segundo. Pedimos ajuda. Pedimos ajuda com o chamamento pela mãe, com o agitar do corpo, com a solidão que toma conta da mente enquanto perdemos os sentidos...
Isto é o que imagino que o meu filho tenha sentido e pensado nos 5 minutos que a anestesia geral precisou para cumprir a sua função. Isto tudo foi o que senti ao ver o meu menino adormecer na sala de operações enquanto me convidavam a sair da sala.
O desfalecimento é uma queda: uma queda para a terra que não tem sonhos, que não tem cores, que não tem sons, que não tem vida pulsante.
E por milésimos de segundo - milésimos! - senti a culpa que não faz sentido pesar neste coração de mãe. Porque nessa queda eu fui mera espectadora da ida para o abismo e sem permissão de estender a mão para o salvar.
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