Podias estar aqui a molhar os teus pés na chuva que cai furiosamente pelo meio do calor sufocante. Podias estar aqui a cheirar o aroma desta terra de que tanto falaste e do qual tinhas tantas saudades. Podias estar aqui a comer a sopa que fiz com Gimboa, o espinafre cá do sitio e que provavelmente à 55 anos atrás já tinhas provado na sopa feita pela tua mãe. E à medida que ias saboreando a sopa com Gimboa feita por mim, ias recordar-te da tua meninice e de quando comias a sopa feita pela tua mãe neste lugar. Podias estar aqui a contar-me as traquinices que fizeste quando tinhas a idade do meu P. ou da minha M.. Podias estar aqui neste momento sentada comigo no pátio, a apreciar o chilrear dos passarinhos que agora sobe de tom porque a chuva finalmente deu tréguas.
Podias... mas não estás. Pelo menos fisicamente. Não ouço a tua voz, mas sinto a tua presença aqui. E por vezes isso basta-me. Mas outras vezes tantas, não.
Podias estar aqui em carne e osso... e não estás. E isso doí como o catano. Que remédio tenho eu de continuar aqui, apenas te sentindo. E isso vai bastando.
Mas gostava, nem que fosse por um segundo, que molhasses os pés, nesta chuva, comigo. Ia saber tão bem, não ia...?
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